sábado, 18 de outubro de 2008

RESUMO DA CATEGORIA IDEOLOGIA - AULA VERA CORAZZA

CATEGORIA – IDEOLOGIA

1. Hoje tudo está impregnado de ideologia. (p.6)
A cultural liberal conservadora do sistema capitalista funciona de modo a apresentar ou desvirtuar suas próprias regras de seletividade, preconceito, discriminação, e até a distorção sistemática como normalidade, objetividade e imparcialidade científica.
O discurso ideológico domina a tal ponto a determinação de todos os valores que aceitamos sem questionamento, sem uma argumentação fundamentada. O próprio ato de questionar um discurso ideológico dominante já está determinado e preestabelecido: quanto nos é permitido questionar; de que ponto de vista; e com que finalidade.
Aqueles que aceitam o discurso dominante, rejeitam como legítimas todas as tentativas de identificar os pressupostos ocultos e os valores implícitos com os quais o sistema dominante está comprometido.
Em nome da objetividade e da ciência os defensores da ideologia dominante desqualificam o uso de determinadas categorias vitais do pensamento critico. Porque reconhecer a legitimidade de determinadas categoriais implica em aceitar o exame dos próprios pressupostos que são assumidos como verdadeiros.
Por exemplo, palavras do dicionário como conservador e liberal têm uma conotação positiva, enquanto que, revolucionário recebe uma descrição negativa (extremista, enfurecido, fanático, radical, ultra) que caracteriza como objeto de atenção do poder judiciário e autoridades penitenciarias.
Outro exemplo, um artigo sobre a exploração econômica na África, onde um professor enfatiza que a palavra exploração, usada como imperialismo não é um termo para estudiosos sérios, porque o seu significado vem ficando confuso por causa de conceitos ideológicos.
Ora, exploração e imperialismo são termos importantes do vocabulário socioeconômico, assim como capitalismo. Se estes conceitos forem tratados com cautela, como vamos conhecer a sociedade em que vivemos? Ou melhor, que tipo de conhecimento teremos da nossa sociedade? Ou ainda, qual o tipo de conhecimento nos é permitido ter da sociedade? Isto não é ideológico? Por que os conceitos que chamam a atenção dos explorados e oprimidos, sobre pressupostos ocultos e valores implícitos da ideologia dominante, são considerados ideológicos? Somente estes?
A ideologia dominante nas sociedades capitalistas se afirma fortemente em todos os níveis. Há muitos modos pelos quais os diversos níveis do discurso ideológico se intercomunicam.
Como exemplo, Mészáros lembra que no pós-guerra muitos intelectuais afirmaram em seus livros e estudos acadêmicos que a distinção entre direita e esquerda política era antiquada para uma sociedade avançada. Ou seja, as palavras direita e esquerda não tinham mais sem sentido.
Esta idéia foi abraçada com entusiasmo pelos formadores da opinião pública e amplamente defendida pelas instituições culturais de todas as sociedades capitalistas. A interação foi tão grande entre sofisticado e vulgar, que se tornou comum referir-se aos representantes da direita como moderados e aos da esquerda como extremistas, fanáticos, dogmáticos, entre outras coisas similares.
Desse modo, extinguiu-se a direita e a esquerda no campo político e social porque é antiquada com a democracia. Como afirma Wood: porque não existe democracia no capitalismo.
O discurso ideológico da derrota da esquerda foi interpretado pelos pós-modernos como o fim da luta política entre grupos sociais com visões sociais de mundo diferentes: contrárias, antagônicas. Da mesma forma: o fim da história, das classes, da ideologia, e, mais recentemente o fim do trabalho. Que significa o fim dos direitos adquiridos pelo trabalhador e a vitória da exploração capitalista.
A ideologia dominante tem uma grande vantagem na determinação do que pode ser considerado um critério legítimo de avaliação do conflito, ela controla efetivamente todas as instituições culturais e políticas da sociedade.
Um exemplo é o programa de treinamento oportunidades para a juventude do governo britânico. Oculta os índices de desemprego, a privatização da saúde, exclui direitos adquiridos retirando-os os benefícios do seguro social. Para o governo esta medida não se tratava de forçar ninguém e sim de encorajar os jovens desempregados a aproveitarem as oportunidades oferecidas a eles.
Os defensores da ideologia dominante, que se dizem neutros, defendem suas idéias como princípios verdadeiros e científicos. Exemplo as críticas que Keynes faz a Marx. (ler citação da p.8)
Parece que a prepotência (ou a ignorância) de Keynes não o permite enxergar que a ideologia dominante é que impõe um terrível processo de conversão, para usar suas próprias palavras, à miséria social.
É claro que as mesmas regras não se aplicam a ordem dominante. Para o capital existe sempre dois pesos e duas medidas: uma para o lucro, outra para os explorados.
O poder da ideologia não pode ser superestimado porque afeta tanto os que negam a sua existência, quanto os que reconhecem abertamente os interesses e valores intrínsecos das várias ideologias que reproduzem o capital.
Mészáros diz que a ideologia é uma forma específica de consciência social, materialmente ancorada e sustentada. (ler citação da p.9)
Na sociedade divida pelos interesses de classes as ideologias dominantes mais importantes definem suas posições como totalizadoras (únicas, universais, verdadeiras) e como princípios éticos do desenvolvimento humano frente às estratégias ideológicas dos oprimidos.
Desse modo, as ideologias conflitantes, em cada período histórico, constituem a consciência pratica necessária através da qual as classes sociais se relacionam e se confrontam, articulando sua visão de ordem social como correta e apropriada para a totalidade da sociedade.
O conflito não será resolvido nos limites do sistema capitalista. É necessário negar o modo dominante de controle sobre o metabolismo social dentro dos limites das relações de produção preestabelecida. Só assim os homens se tornam conscientes do conflito e o resolvem pela luta.

2. A passagem da dialética idealista para a dialética materialista.
Partimos da idéia de movimento interno da realidade, cujo motor é a contradição que se estabelece entre classes sociais, entre homens em condições históricas e sociais.
O nosso ponto de partida é gênese da mercadoria (origem e desenvolvimento) para retomar os principais conceitos e categorias da dialética materialista e mostrar como se dá o ocultamento e a reprodução das contradições sociais através da ideologia.
O modo de produção capitalista separou o trabalhador das condições materiais de produção da sua sobrevivência. (meios de produção)
Este processo converte em capital os meios sociais de vida e de produção, converte os produtores diretos em assalariados.
Na sociedade moderna há dois tipos de homem: o burguês, proprietário privado das condições de trabalho; o trabalhador, desprovido destas condições.
Esta é uma relação de interdependência: o capital não pode se acumular sem a exploração do trabalho e o trabalhador não possui as condições de trabalho (reprodução da força de trabalho).
O trabalho livre tem tuas faces: a) o trabalho como expressão de uma vontade livre e dotada de fins próprios (lucro e acumulação de capital); e, b) o trabalho como relação da máquina corporal (força de trabalho) com as máquinas sem vida (meios de produção). Ver categoria MP que apresentei na aula do dia 01/04.
Nesta divisão, o lado livre e espiritual do trabalho é o burguês, que determina os fins. O outro lado, mecânico e corpóreo do trabalho é o trabalhador. Ou seja, a liberdade versus a necessidade. (Esta é uma questão filosófica ver Chauí, p.16)
A realidade é um processo, um movimento temporal de constituição de seres e de suas significações. Este processo é determinado pelo modo como os indivíduos se relacionam entre si e com a natureza (relações de produção).
É preciso partir das relações sociais para entender como e porque os homens agem e pensam de maneiras determinadas, sendo capazes de atribuir sentido a tais relações, de conservá-las ou de transformá-las. Isto significa que devemos compreender as relações sociais como processos históricos.
A história é modo como os homens determinados, em condições determinadas, criam os meios e as formas de sua existência social, econômica, política e cultural, e como reproduzem ou transformam esta existência.
A história é práxis, é o real, isto é, o movimento pelo qual os homens, em condições que nem sempre foram escolhidas por eles, legitimam um modo de produção através de instituições determinadas. Ao fazer isto, os homens produzem idéias ou representações pelas quais procuram explicar e compreender suas vidas individuais, sociais e espirituais.
Estas idéias e representações tenderão a esconder dos homens o modo real como suas relações sociais foram produzidas e a origem das formas sociais de exploração econômica e de dominação política. Este ocultamento da realidade social chama-se ideologia. Através dela, os homens legitimam as condições sociais de exploração e de dominação, fazendo com que pareçam verdadeiras e justas.
Qual o conceito de ideologia? Ver o resumo da aula 01/04: O que é teoria? Conhecimento? O que é conceito? O que é categoria?
Qual a diferença fundamental entre a dialética materialista e idealista?
Ver origem e desenvolvimento do conceito, 2ª fase do pensamento de Marx, p.16 deste trabalho.
Marx utiliza o conceito ideologia, pela primeira vez, em A ideologia Alemã (1846). O conceito e sua análise têm como objeto de estudo o pensamento dos filósofos alemães posteriores a Hegel.
Portanto, é um pensamento historicamente determinado. Esta é a diferença fundamental da dialética materialista para a idealista. Marx não separa a produção das idéias das condições históricas em que estas são produzidas.
A ideologia se caracteriza exatamente pela separação das idéias da realidade da qual são produzidas.
A história dos homens e a história da natureza são inseparáveis. É esta a concepção de história para Marx. Ele se interessa pela história dos homens e como estes podem transformar a natureza. Para ele, a própria ideologia é um aspecto dessa história.
Marx conserva as contribuições do pensamento de Hegel, mas critica o seu idealismo. Ele mantém a idéia de movimento interno da produção da realidade, cujo motor é a contradição estabelece uma diferença fundamental:
Para Hegel, a contradição se estabelece no espírito, consigo mesmo, entre sua exteriorização em obras e sua interiorização em idéias.
Para Marx, a contradição se estabelece entre classes sociais, entre homens em condições históricas e sociais. A história é modo real como homens produzem suas condições reais de existência. É a história como os homens reproduzem a si mesmos, como produzem e reproduzem suas relações sociais.
O método histórico dialético deve partir do abstrato ao concreto. (Ver a aula do dia 27/05)
A mercadoria será considerada a forma mais abstrata do modo de produção capitalista, o qual aparece para nós como uma imensa produção, acumulação, distribuição e consumo.
Porém, através do seu método Marx revelará outra mercadoria: a força de trabalho. Um elemento fundamental da produção capitalista, que é vendida no mercado e assume a forma de uma mercadoria qualquer.
Quando compreendemos a origem e desenvolvimento da mercadoria percebemos que ela não é tão simples como ela aparece, pois ela é, ao mesmo tempo, valor de uso e valor de troca.
Como valor de uso, vale pela sua utilidade. Como valor de troca, vale pelo seu valor no mercado.
Mas o valor da mercadoria não é determinado no mercado e sim na produção. Seu valor é determinado pela quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário para produzi-la.
A mercadoria inclui no seu preço os gastos físicos, psíquicos e econômicos. Ela não é uma coisa, mas trabalho social concentrado.
O processo de produção de mercadorias utiliza capital e trabalho. O capital é propriedade privada do capitalista. A força de trabalho é trocada por um salário (trabalho socialmente necessário). O salário que o trabalhador recebe não remunera todo o seu tempo de trabalho, uma parte do tempo é apropriada pelo capital e denomina mais-valia, ou seja, o valor que o trabalhador produz além da reprodução da sua força de trabalho.
A mais-valia apropriada constitui o lucro do proprietário e transforma-se no seu capital. Portanto, a origem do capital é o trabalho não pago. Graças a mais-valia a mercadoria não é um valor de uso, é valor de uma troca qualquer, mas é um valor capitalista. Ou seja, a mercadoria é tempo de trabalho social, porém, não é qualquer tempo é o tempo não pago. A mercadoria oculta o fato de que há exploração do trabalho por parte do proprietário dos meios de produção.
A dialética é materialista porque seu motor é trabalho material: o trabalho como relações dos homens com a natureza, para negar as coisas naturais e transformar em produtos de seu trabalho (relações de produção). O que interessa para dialética materialista é a divisão social do trabalho e as relações dos homens divididos na produção.
O motor da dialética materialista é a forma determinada das condições de trabalho, das condições de produção e reprodução da existência social dos homens (Chauí, 1981, p.54). Esta forma é determinada por uma contradição interna, pela luta de classes, pelo antagonismo entre proprietários e não-proprietários das condições de trabalho.
Para o materialismo histórico e dialético é impossível compreender a origem e a função da ideologia, sem compreender a luta de classes, pois a ideologia é um dos instrumentos de dominação de classe e uma das formas da luta de classes.
A ideologia é usada pelos dominantes de forma que os dominados não percebem que estão sendo dominados.
O modo de produção capitalista ao separar os homens em proprietários e não proprietários, confere poder aos proprietários. Os não proprietários são explorados economicamente e dominados politicamente, através da ideologia.
A ideologia é o processo pelo qual “as idéias da classe dominante se tornam as idéias dominantes na sociedade”.
3. A ideologia é um instrumento eficaz de poder e reprodução do capital
Ela faz com que os fenômenos materiais da realidade social se apresentem como naturais e não historicamente produzida pelos homens. Este é o propósito da ideologia, que as coisas sejam aceitas como estão porque elas sempre foram e serão naturalmente assim. Esse é o processo de alienação social que se dá pela reificação das relações e pelo fetichismo da mercadoria. Assim, podemos dizer que ideologia é ocultamento, dissimulação, negação, oferecimento de imagens ilusórias, que podemos definir como mediação.
Segundo Mészáros, a analise da tendência das conseqüências da globalização requer uma analise dos mecanismos internos do sociometabolismo do capital e do capitalismo. A natureza desse metabolismo social pode ser definida como mediação.
A mediação é uma necessidade humana, pois homem não tem uma relação direta com a natureza. Essa mediação é perversa, diz Mészáros a mediação da mediação, uma mediação de 2ª ordem, alienada, da qual ninguém está livre.
Quais são os imperativos dessas mediações que ninguém deixa de obedecer? São eles:
- o dinheiro, com suas inúmeras formas enganadoras e dominantes, até à pressão dos sistemas financeiros globais de hoje;
- o trabalho, separado da possibilidade de controle (do assalariado, controlado) do capital para o capitalista, por onde se dá a dominação;
- o status do capital no cenário global, por meios violentos, levando a humanidade à destruição;
- o incontrolável Estado Mundial e suas precárias condições.
A classe trabalhadora não pode se eximir desses imperativos. E o grande capital não tem limite. Ele é incapaz de reconhecer limites.
Mészáros apresenta algumas relações fundamentais que ilustraram esse aspecto, identificando estes limites absoluto do sistema capitalista, revelando que todos eles são formas de contradições insolúveis. Criadas e reproduzidas pelas relações de produção.
Um desse limites absoluto diz respeito ao emprego. O capital é incapaz de prover os empregos necessários. Segundo as Nações Unidas, no que se refere ao desenvolvimento social, os números mostram que 50% da força de trabalho está subempregada ou desempregada no mundo.
O subemprego é uma forma de ‘esconder’ a realidade do desemprego. A grande maioria, quase a metade da população do mundo vive na condição de miséria social, de degradação da vida humana.
A ideologia dominante diz que a tecnologia irá ajudar a todos. Na verdade, se vê ao contrário. A inovação tecnológica é a grande desculpa para se desempregar pessoas.
Segundo Mészáros, não há saída possível para o capitalismo, pois este sistema não tem limite, não é capaz de resolver a gravidade extrema de suas contradições que são permanentemente criadas por ele.
A ‘não-alternativa’ ao capital, denuncia ele, significa a ‘não-alternativa’ para a sobrevivência da própria humanidade. É preciso criar alternativas para enfrentar do sistema, na sua totalidade, na sua natureza. Não basta negar o capitalismo, diz ele. É necessário construir possibilidades de mudança para transformar a realidade social.

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