sábado, 18 de outubro de 2008

COMPREENDENDO A DIALETICA E SUAS CATEGORIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRE: SONIA RIBAS

“Todo começo é difícil em qualquer ciência. [...] Por quê? Por que é mais fácil estudar o organismo como um todo, do que suas células. Além disso, na análise das formas econômicas, não se pode utilizar nem microscópio nem regentes químicos. A capacidade de abstração substitui esses meios”. (Karl Marx)

Gostaria de colocar que quando comecei a estudar a dialética materialista e a tarefa "mostrar o uso, o emprego, das categorias e leis da dialética num fenômeno de pesquisa, de maneira especial, do projeto de dissertação ou da tese", fiquei assustada, porque teria que romper com o meu próprio jeito de pensar. Chegar até aqui não foi fácil, encontrei dificuldades de natureza individual e familiar, e outras, de caráter geral: como problema de tempo, excesso de horas de aula, em busca da sobrevivência, mas, esse problema inicial se transformou num impulso de luta, porque sofremos com as mazelas que a nossa sociedade capitalista impõe aos educadores.

Importante destacar, que esta caminhada em busca de compreender a dialética materialista não foi das mais fáceis, mas com o auxílio dos seminários, estudando o material de leitura recomendado
[1], a ajuda e o espírito solidário dos colegas do grupo de pesquisa da linha “Trabalho, Movimentos Sociais e Educação”, e seus trabalhos sistematizados, consegui avançar, mesmo sabendo da complexidade desta perspectiva teórica.

Com estas bases preliminares, que eu considero insuficientes, em relação ao meu nível de compreensão necessário que desejo, me debrucei em Cheptulin. A dialética materialista. Este é um livro completo e complexo, profundo. Muito difícil para mim. E ai comecei a perceber uma espécie de faísca que surgia que denotava um raio de compreensão .

O primeiro que ficou clara para mim, lendo Cheptulin, foi que num fenômeno material estão presentes todas as categorias e leis. Eu havia escutado já essa idéia nas aulas, mas nada havia ficado claro. Que significava isto para mim? Primeiro: havia que entender que quando se falava de um fenômeno, não se queria dizer que se tratava de um fenômeno singular (por exemplo, um gato, um médico, um professor, uma classe social baixa), mas de um fenômeno que representava uma multiplicidade de fenômenos da mesma índole.

E por ai comecei, o que é um fenômeno material? Para definir o que é um fenômeno material, devemos, em primeiro lugar, determinar um problema filosófico fundamental: que é o primeiro que existiu ? O espírito que criou tudo? Ou a matéria da qual se derivou toda a realidade ? Segundo as colocações de Trivinos
[2] considera que foi a matéria o que existiu primeiro. Dai derivou toda a realidade, inclusive os fenômenos espirituais. Deste modo a realidade estaria integrada por fenômenos materiais e por fenômenos espirituais.

Se a matéria existiu primeiro então ela não é uma realidade objetiva concreta qualquer, desta maneira, a matéria não é uma massa em movimento, mas um conjunto de fenômenos materiais em movimento, que está perpetuamente organizando-se e reorganizando-se.

Cheptulin
[3] coloca que na Antigüidade grega, os materialistas consideravam a matéria como esse ou aquele corpo concreto sensível, a substância mais expandida, que eles consideravam como princípio de todas as coisas .Thales (água); Anaxímenes (ar); Heráclito (fogo); Empedocles (água, ar, fogo e terra); Anaxágoras (inumeráveis sementes de coisas); Democrito (o átomo). O autor conclui dizendo que a matéria é uma realidade objetiva geral, que está fora da consciência.
Sendo uma realidade objetiva, a matéria existe não sob o aspecto de uma massa homogênea, mas representa um todo desmembrado, do que todas as partes, encontrando-se em correlação universal, estão em um certo isolamento e, em decorrência disso, manifestam-se como formações materiais autônomas. As formações materiais estão ligadas a conceitos como o "corpo", a "coisa", "o fenômeno". Cada formação material representa assim uma parte da matéria, um de seus elos. Juntas, elas constituem a matéria". As formações materiais não são eternas. Neste sentido, o conceito de matéria, no sentido estrito do termo, é inaplicável às formas materiais particulares (corpos, coisas, fenômenos) (Cheptulin, 1982, p. 73 e 74)

Para compreender o que é a consciência fui entender o que era o reflexo primeiramente, e encontrei no mesmo autor (p. 83) como "O reflexo é uma propriedade universal da matéria, que consiste na capacidade de reproduzir, das formações materiais, as particularidades de outras formações materiais agindo sobre elas, nessas ou aquelas modificações de seu estado ou de uma propriedade qualquer". Ou seja, a consciência é uma forma de reflexo da realidade que se apresenta na matéria mais altamente organizada, que é o cérebro humano. Esta forma mais altamente organizada do cérebro humano, alcançou através do trabalho humano e o desenvolvimento social, e não só de mudanças fisiológicas ocorridas no cérebro humano (Cheptulin, p.88). Exemplo: Quando observamos alguma prática, essa imagem reflete na nossa consciência, mas não como uma fotografia ou imagem congelada, mas no cérebro há uma organização de todas as sensações de forma criativa, aqui se sistematiza novos conceitos e novos pensamentos e ela se materializa através da linguagem e da própria ação, deixando de ser ideal e passa a ser material.

Outra informação importante é que a consciência existe não só em forma de conhecimento, mas igualmente sob a forma de emoções, sentimentos e vontades.
Voltando aos Fenômenos materiais, estes são todos aqueles que estão fora da nossa da consciência. E entendi por fenômenos espirituais todos aqueles fenômenos que estão dentro da consciência. Exemplo “saudade”, por exemplo, pode ser num instante fenômeno espiritual, quando a pessoa está pensando esse sentimento, sem ser manifestado e será fenômeno material quando o sujeito o expressa na fala ou em forma escrita: “saudade”.
[4]

Então vou resumir pra ver se compreendi:
- A realidade é composta de FM e FE;
- A realidade é o que existe realmente no mundo objetivo, mas tb é uma possibilidade já concretizada – realizada;
- FM existem na natureza e refletem em nós, e a partir desse reflexo tomamos consciência de sua existência;
- Esse reflexo é uma propriedade da matéria;
- Nos FM estão tds as categorias e leis;
- FM estão em constante movimento;
- Revela a essência e a manifestação externa;
- Está delimitado no tempo/espaço/forma/ ...
- É parte da matéria;
- Está fora da consciência e tb representa uma multiplicidade de FM. Pq as próprias propriedades do FM delimitado, tb são FM.
Só entendemos o FM a partir da compreensão do grande problema da filosofia, ser idealista (1º espírito) ou materialista (1º a matéria).
- Se a Matéria existiu 1º, então ela não é uma realidade objetiva qualquer, e nem uma massa em movimento, mas um conjunto de FM em movimento, que está perpetuamente organizando e reorganizando-se;
- Tb se move no espaço (ocupa lugar, extensão) e no tempo (historia);
- Ela está fora da consciência (q é uma propriedade da matéria);
- A matéria não é só coisa, objetos e processos, ela é o todo. O objeto, a coisa seria a estabilidade da matéria, pois ela sempre se apresenta organizada. Mas tb é matéria: as ondas de campo gravitacional e magnético, microorganismos, etc;
- Para compreender a Consciência, é necessário ver que a matéria passou por longos períodos evolutivo e precisou de milhões de anos para desenvolver suas diferentes fases;
- Nesta evolução, o Homem apareceu mto tarde, qdo o Homem surge, aparece a consciência;
- Matéria é capaz de reflexo. Este reflexo é uma caracterisitica geral da matéria, uma propriedade dela.
- Consciência é um tipo de reflexo, a propriedade mais evolutivca do reflexo, mais altamente organizada que existe, a do cérebro humano;
- A grande propriedade da consciência é refletir a realidade objetiva;
- Ai surgem:
- Sensações, percepções, representações, raciocínio, juízos, conceitos;
- Todos são imagens, produtos ideais reflexões da realidade objetiva;
- O cérebro por si só não pensa, a consciência está unida a realidade material;
- Trabalho e a linguagem surgem mais adiante, e estes estão ligados ao desenvolvimento desta propriedade do cérebro humano, a consciência de refletir a realidade humana;
- Para os idealistas a consciência é a alma, uma substancia imaterial, eterna e imortal.
- Esta surgiu na antiguidade, mas encontrou fundamentação teórica na Idade Média.
Depois dessa relativa compreensão sobre realidade, matéria e consciência, voltamos ao FM.
Como o prof já explicou em aula, existem diversos tipos de FM (biológicos, físicos, químicos, sociais).
Tenho claro que os fenômenos materiais sociais foram criados pelos seres humanos e sua existência está relacionada, em geral, com as necessidades que as pessoas ou grupos de pessoas tiveram ou têm em sua totalidade, num tempo dado. Os fenômenos materiais sociais possuem uma duração mais breve que a existência dos fenômenos materiais naturais, porque são definitivamente históricos.

Quando se começa a estudar determinada perspectiva teórica para compreender a realidade em que vivemos escolhemos geralmente aquela que tem significado com a sua situação de vida, naquele momento. Escolhi essa perspectiva teórica metodológica para compreender os fenômenos, pois esta é uma das abordagens que, a meu ver, dá possibilidades de análise das contradições da conjuntura atual. Pois vivemos numa sociedade de classes sociais, onde os suspiros antagônicos entre riqueza e pobreza estão refletidos em cada caminhar, e, também, porque essa teoria prioriza como essencial o ser humano e busca auxiliá-lo em suas necessidades materiais e espirituais. E todo o conhecimento deve servir para ajudar e melhorar a vida das pessoas nesse mundo.

Depois que compreendi que todos os fenômenos materiais estão em conexão, percebi como é difícil delimitar um fenômeno material. Marx dizia em “O Capital” que, na realidade, não existe um fenômeno “puro”. Esta delimitação se torna muito mais difícil nas ciências sociais que nas ciências naturais.

Algumas teorias, não aceitam a idéia da conexão dos fenômenos materiais como básica, delimitam o fenômeno material, e todo seu estudo se centra exclusivamente no fenômeno material delimitado. Apenas, às vezes, estabelecem relações imediatas (Positivismo) entre o fenômeno que se estuda ou em outros fenômenos materiais.

A dialética por estudar as formas gerais do ser, os aspectos e os laços gerais da realidade e as leis do reflexo, destas últimas na consciência dos homens, as leis do funcionamento e desenvolvimento do conhecimento se realizam através das categorias e leis.

Percebi que ao estudar um fenômeno material, este possui muitas propriedades, não só de quantidade, mas de causa e efeito, de realidade e possibilidade e outras propriedades que ajudam a distinguir esse fenômeno material de outro, e estão cheios de significados e sentidos que devem ser conhecidos para explicar, compreender, interpretar e propor mudanças, caso necessário na atual conjuntura.

[1] (Li os artigos e capítulos de livros escritos por Triviños. Um , no livro Introdução à pesquisa em ciências sociais (pp.54-74); outro, A pesquisa qualitativa na educação física (pp.11-27), e por último, Estratégias educacionais no Mercosul (pp.68-83)
[2] Introdução à Pesquisa Qualitativa. Breve estudo comparativo entre a Pesquisa Qualitativa e a Pesquisa Quantitativa. (2004) (Documento digitado)

[3] A.Cheptulin. A dialética materialista.São Paulo: Alfa-Omega, 1982, p.64.
[4] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Introdução a Pesquisa Qualitativa. Documento digitado. 2002. p. 02
Triviños. A. Bases Teórico Metodológicas da Pesquisa Qualitativa em Ciências Sociais. Idéias Gerais para a elaboração de um projeto de Pesquisa. Cadernos de Pesquisa Ritter dos Reis. Volume IV. 2001, (p.40-41-42).

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