sábado, 18 de outubro de 2008

COMO TRABALHEI COM O METODO MARXIANO EM MINHA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Aqui apresento o Materialismo Dialético (MD) e o Historico (MH) da Teoria MArxiana e como apliquei as categorias e as leis da dialética em meu estudo de mestrado.


ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO ESTUDO


Depois de conhecer os fenômenos materiais que fizeram parte de minha pesquisa, que delimitei o meu objeto de estudo estabelecendo suas ligações e relações com outros fenômenos materiais sociais, realizado entrevistas, questionários; analisados, interpretado e compreendido todos os materiais que integraram esse meu estudo, apresento nesse capitulo a abordagem teórico-metodologica e como trabalhei para conseguir os resultados que obtive com minha investigação.

Esse trabalho é de natureza qualitativa. É um estudo de caso, desenvolvido e apoiado na dialética materialista. Consoante com a dialética materialista nosso objeto de estudo será necessariamente considerado em desenvolvimento, em “automovimento” em mutação. Entendo que nessa metodologia, o objeto de estudo é uma unidade que analisa o fenômeno em profundidade[1], sua relevância está associada à abrangência da unidade, à complexidade e à determinação dos suportes teóricos que são à base do trabalho do investigador.

É importante lembrar, segundo Triviños[2], que no Estudo de Caso Qualitativo, nem as hipóteses, nem os esquemas de inquisição estão aprioristicamente estabelecidos, a complexidade do exame aumenta à medida que se aprofunda no assunto.

Embora o Estudo de Caso possa se assemelhar a outros, a singularidade de cada um os torna distintos frente ao particular, uma vez que cada fenômeno a ser estudado se faz único dentro da realidade objetiva mais ampla, o que permite contextualizá-lo de forma complexa, percebendo novos elementos que podem, de certa forma, tornarem-se importantes durante o estudo do fenômeno material no contexto em que ele se situa.

O objetivo desse estudo não foi buscar generalizações. Pretendeu se buscar generalidades, já que "o estudo de caso deve pretender construir um saber em torno de uma particularidade, portanto, o seu propósito não é representar o mundo, mas representar o caso"[3].

Enquanto eu definia o tipo de estudo, também delimitava a natureza da minha pesquisa, que é de natureza qualitativa e materialista dialética. Isso significava que as bases teóricas do Materialismo Dialético e do Materialismo Histórico me orientou na trilha do meu estudo, em sua situação material de movimento em repouso, de contradições, de totalidade. Assim compreendia o meu fenômeno material social e particular em constante movimento que se materializava também, no sentido histórico em que se apresentavam e se relacionavam com os outros fenômenos materiais.

As categorias do Materialismo Dialético me auxiliaram na organização e reorganização das informações obtidas e o conhecimento das categorias do Materialismo Histórico me possibilitou através, da categoria básica, o modo de produção, a compreensão das possibilidades e limitações que o atual modo de produção capitalista permitia eu encontrar e sugerir algumas mudanças dentro da área da EJA.

Segundo o professor Triviños, numa de suas aulas, no pós-graduação da UFRGS, a pesquisa qualitativa nasceu quando Marx organizou e sistematizou sua obra mais importante, “O Capital”. Ele coloca que para analisar um fenômeno social não dá para usar microscópio, como nos fenômenos naturais, e sim fazer abstrações, estudar as partes que constituem esse fenômeno para posteriormente encontrar na essência e no fundamento as contradições responsáveis pelo desenvolvimento dessa formação material organizada.

Veja o que diz Marx:
Todo começo é difícil em qualquer ciência. [...] Por quê? Porque é mais fácil estudar o organismo como um todo, do que suas células. Além disso, na análise das formas econômicas, não se pode utilizar nem microscópio nem reagentes químicos. A capacidade de abstração substitui esses meios. (Marx, 1983, p. 468)

Quando expresso que esse estudo é de natureza dialética, estou definindo o caminho da pesquisa, e aqui ressalto que não é fácil seguir esse método, o mesmo Marx já o dizia, como citei acima. Pois toda a minha formação, e acredito a que de muitos colegas, foi norteada pela teoria positivista, não precisava compreender os fenômenos materiais em sua totalidade, descobrir sua essência, enfim, não era necessário olhar a realidade de forma crítica, pois toda a ideologia presente na formação humana objetivava a conservação da sociedade.

O método de Marx apresenta duas grandes etapas: método de investigação e o método de exposição, claramente definidas e ligadas dialeticamente. O método de investigação compreende duas fases: uma constituída pelo que Marx chama de concreto sensível, ou configurado, ou contemplação viva do fenômeno e a outra análise ou abstração.

Todo fenômeno material existente na realidade apresenta-se, a princípio, de forma vaga e imprecisa. Temos apenas sensações e percepções. Esse é o momento da contemplação viva do fenômeno (Lênin). Segundo Triviños [4], este início de estudo estabelece a singularidade da coisa, do fenômeno e de que esta existe, que é diferente de outros fenômenos.

O concreto sensível do meu fenômeno material social particular é a vida dos egressos da EJA. Esse está se organizou através de muitas leituras, revisões de bibliografias, estudos com os colegas de grupo de pesquisa, através dos seminários, para posteriormente avançar no processo de conhecimento e compreensão do mesmo.

A outra fase é análise ou abstração, que é um ato de estudo do fenômeno para distinguir suas partes. É um ato mental que se realiza baseado na experiência, no conhecimento global do fenômeno, para separar suas partes. Determinadas as partes, novamente, baseada na experiência e no conhecimento totalidade do fenômeno, se determina qual parte é dominante, que determina a todas as outras partes do fenômeno material social. Quando se determina a parte dominante do fenômeno, se busca a sua origem e seu desenvolvimento, que no meu fenômeno material social que investiguei tinha como determinante o currículo.

Aqui, começava o estudo do fenômeno para descobrir suas propriedades, como estava constituído, que aspectos eram mais importantes, se estabeleciam diferenças e semelhanças. Esse trabalho foi caracterizado pelas categorias do Materialismo Dialético e do Materialismo Histórico, que direcionava o processo para conhecimento de sua totalidade, através do caminhar histórico, refletido através das leis que orienta a sociedade, no nosso caso dividida em classes, e quem determina a lei numa sociedade assim, é a classe dominante.

Nessa busca da essência encontrei as contradições do meu fenômeno material social. Que segundo Triviños, qualquer fenômeno material que estudamos apresentará diferentes tipos de contradição, possam ser elas essenciais e secundárias. Pois a contradição é o motor principal da dialética, indica movimento, está em choque, e este processo está sempre em desenvolvimento, num infinito “vir a ser”, conseqüentemente, rompendo com certos aspectos quantitativos do fenômeno, originando um novo fenômeno material, com outras qualidades e especificidades.

Diante do fenômeno material social estudado, regressei ao problema de minha pesquisa. Mas esse fenômeno não é mais impreciso, ele está enriquecido com a literatura, constituindo uma totalidade em movimento. A seguir analisei o tempo e os recursos que tinha para chegar nesse processo, o encontro ao concreto lógico.

Triviños cita Marx ao descrever seu método, ou seja, Marx não fez uma apresentação detalhada de seu método dialético. Como exceções talvez possam ser consideradas a descrição de seu método na obra de 1859 “Contribuições da Economia Política” e o que colocou no prefacio da 2ª edição de “O Capital”

O primeiro passo (isto é, a atividade que realiza o espírito para discriminar, descobrir, as partes que constituem o fenômeno, ‘o concreto figurado’) reduziu a plenitude da representação (isto é, como o fenômeno se apresenta a nossas sensações: como um conjunto caótico, sincrético, global, indeterminado), a uma determinação abstrata (ou seja, o conjunto de partes que estariam constituindo o fenômeno); pelo segundo as determinações abstratas (ou seja, os elementos constitutivos do fenômeno, em suas relações, em sua origem, em seu desenvolvimento, em suas contradições) conduzem à reprodução (que vai a reproduzir?: o fenômeno que apareceu a nossas sensações, a nossas representações, ou seja, o concreto figurado, mas como?) do concreto pela via do pensamento” (isto é, o concreto lógico, o resultado, a síntese. Síntese de quê? Das relações das partes do fenômeno, com outros fenômenos, com sua origem, com seu desenvolvimento, com suas contradições). (O conteúdo dos parênteses é uma tentativa de esclarecimento nossa). (Triviños, 2005, p. 108) [5]

Marx coloca que as contradições constituem a força motriz no interior do desenvolvimento de cada fenômeno da realidade e por isso a análise das contradições é a única via de conhecimento da realidade em desenvolvimento, o único método de aplicação conseqüente do princípio da historicidade.

Na sociedade capitalista a contradição é a base para o estudo dos fenômenos materiais sociais, pois nas sociedades divididas em classes, cada classe há uma ideologia, é dentro destas ideologias que se encontram a contradição. Mas deve se destacar que essas ideologias não são eternas, mudam, e em cada momento histórico apresentam conteúdo e formas de se manifestar diferente.

O método dialético parte do conceito da categoria de totalidade para explicar e compreender a realidade. Esta categoria tem seu surgimento com o nascimento da filosofia e da dialética, que segundo alguns autores, data do final do século VII e inicio do século VI antes de Cristo. E foi desenvolvida por Lukács em 1923, no seu livro “Historia e Consciência de Classes”, e também já estava presente em Hegel e Marx.

A categoria de totalidade parte do fenômeno material social que está aparentemente isolado, e o relaciona com outros fenômenos materiais sociais da mesma índole, por isso a necessidade de compreender antes a categoria de ligação e relação.

Segundo Goldmann, citado por Triviños [6], “no centro do método dialético de Hegel se encontra a categoria da totalidade” e caracteriza essa categoria em Hegel, dizendo:

A totalidade é, para Hegel: 1º- Concreta e envolvendo o conteúdo, contrariamente à lógica formal e às leis científicas abstratas; 2º- Mutável, em evolução perpétua, contrariamente às verdades eternas do “atomismo abstrato”; 3º- Contraditória, desenvolvendo-se segundo o célebre esquema triádico: tese, antítese e síntese; “Concreta, envolvendo o conteúdo, mutável e contraditória, tais são as principais características da totalidade hegeliana. (Triviños, 2004, p. 66)

Já Lukács diz que “a categoria da totalidade concreta é a categoria fundamental da realidade”.

Triviños coloca que a concepção dialética materialista da totalidade é uma concepção que, num primeiro momento, se afasta do fenômeno que se está estudando para relacioná-lo com outros fenômenos e inclusive para descobrir a origem do fenômeno e seu desenvolvimento, mas que logo, com todo o acervo de informações que se captou no processo de relações e de desenvolvimento, o fenômeno imediato, o foco em estudo, surge no espírito, com outras dimensões, muito mais ricas das que inicialmente apresentava (porque foram vistas suas relações e seu desenvolvimento que ofereceram outras luzes).

Assim, apresentado o fenômeno concreto sensível aparece agora como um produto do pensamento, como uma totalidade concreta. É uma reprodução mental do fenômeno concreto sensível não como ele se oferece numa primeira instância, mas como emerge depois de haver sido relacionado com outros fenômenos (econômicos, políticos, culturais, sociais) e de haver estudado seu desenvolvimento através de suas contradições. Marx coloca que a totalidade concreta não é, de maneira nenhuma, dada ao pensamento. E o concreto é concreto, porque é a síntese de diversas determinações, portanto, unidade do múltiplo[7].

Esta concepção de totalidade do materialismo dialético baseia-se na relação dialética do todo com as partes, no sentido que um fenômeno só abstratamente, pode ser isolado e explicado em si mesmo, alheio às circunstâncias que o produziram ou nas quais está inserido.

Já Kosik coloca que “a dialética da totalidade concreta não é um método que pretende ingenuamente conhecer todos os aspectos da realidade, sem exceções, e oferecer um quadro ‘total’ da realidade, na infinidade dos seus aspectos e propriedades” “... A totalidade concreta não é um método para captar e exaurir todos os aspectos, caracteres, propriedades, relações e processos da realidade; é a teoria da realidade como totalidade concreta”.

Diante das exposições sobre a categoria de totalidade, é necessário para sua compreensão entender a categoria de ligação e relação. Segundo Triviños, as formações materiais estão em permanente interação, atuando umas sobre as outras, transformando-se reciprocamente. Na realidade, todos os fenômenos estão ao mesmo tempo ligados e isolados, mas são interdependentes.

Cheptulin [8] coloca que:

A ligação é a relação entre objetos da realidade. Mas nem toda relação é ligação. O conceito de ‘relação’ é mais vasto do que o de ‘ligação’. Esse conceito engloba não apenas a ligação entre os fenômenos da realidade, mas igualmente seu isolamento, sua separação, não apenas a sua interdependência, mas também uma certa independência, uma relativa autonomia. A ligação é uma relação entre dois fenômenos quando a modificação de um supõe uma certa transformação do outro, quando a essa ou aquela modificação ou aquela modificação em um correspondem essas ou aquelas modificações no outro. (Cheptulin, 1982, p. 176)


Dessa forma, a categoria de totalidade não é a soma das partes, mas sim um todo dinâmico, em constante movimento, que só podemos entendê-lo a partir de uma abstração, que é uma reprodução mental que o pesquisador faz para compreender as contradições presentes no fenômeno material social em estudo.

Só conseguiremos compreender o fenômeno em sua totalidade a partir das contradições, no caminhar histórico, não em sentido linear, mas na dinâmica da vida material. E assim, conseguir ir além das aparências, em busca da essência dos fenômenos.

Através da ciência econômica, Marx fundou e aplicou em seu trabalho o método dialético, apontando que cada período histórico possui suas próprias leis. E este mostrou isto quando escolheu o ponto de vista do proletariado no sentido de desocultar o conteúdo histórico de sua luta.[9]

O terceiro momento do método é o Concreto Lógico que, segundo Colao [10], este é o final do estudo, (relatório final, dissertação ou tese), mas também, é o começo, porque se volta ao concreto sensível com o objetivo de mudar esse objeto sensível, de transformá-lo noutro concreto sensível que esteja de acordo com as conclusões as quais tem se chegado depois de um longo estudo.

Triviños também coloca que no momento em que iniciamos a volta ao fenômeno em seu desenvolvimento inicial, estamos começando a elaboração do que se denomina concreto lógico. Este será um produto ideal, espiritual e também, um resultado.

Nessa pesquisa trabalhei com uma população, apenas como uma referência, já que a natureza desse meu estudo permite desenvolver essa investigação, segundo esse critério. Minha população de referência estava integrada por 253 alunos egressos, entre 1990 e 1995 da escola de Ensino fundamental Estado do Rio grande do Sul, lembrando que essa quantificação do fenômeno, como nos aponta Triviños[11], “é simplesmente considerada como auxiliar dos processos de descrição e de interpretação dos traços que apresenta a informação”. A amostra, por outro lado, foi intencional. Fixei seu tamanho em 08 alunos egressos, seguindo algumas fontes teórico-metodologicas[12], usando critérios como sexo, idade (entre 15 a 24 anos e os com mais de 25 anos).

A coleta de informações foi realizada através de várias técnicas. Uma delas foi a entrevista semi-estrutrada. Foram realizadas oito entrevistas com duração média de uma hora e meia, que foram transcritas. Essa técnica foi realizada em locais especiais, em praças, em locais de trabalho dos entrevistados, em suas residências, como direito a cafés e presentes para a entrevistadora. Também usei o método de análise de documentos[13] não somente no estudo da literatura e pesquisa pertinentes, mas também nos documentos legais, entrevistas semi-dirigidas e questionário semi-aberto.

A entrevista semi-estruturada foi o principal instrumento de coletar as informações. Essa é uma técnica ou uma das ferramentas que utiliza a pesquisa qualitativa para alcançar seus objetivos. Parte-se de um conjunto de perguntas básicas que aponta fundamentalmente para a essência que preocupa o investigador.

A entrevista semi-estruturada, com um conjunto básico de pergunta que aponta fundamentalmente para a medula que preocupa o pesquisador, é uma das ferramentas que utiliza a pesquisa qualitativa para alcançar seus objetivos. A entrevista semi estruturada começa com um número determinado de interrogativas, podem concluir com trinta, quarenta ,sessenta, ou mais perguntas, por que cada pergunta feita pelo entrevistador, a resposta recebida pode originar outras perguntas do investigador. (Triviños, 2001, p.85)

Ratifico a necessidade do domínio da teoria, no caso aqui, a dialética materialista, pois as categorias e suas leis indicaram o caminho que tinha que trilhar para conhecer o fenômeno material social em estudo. Principalmente, que tipo de perguntas deveria fazer para conhecer, interpretar, explicar e compreender o fenômeno. E essa tarefa não foi nada fácil, pois as perguntas, da entrevista semi-estruturada, devem estar organizadas, de forma que consiga compreender as contradições presentes no problema da pesquisa, e que este, dê possibilidades de conhecer as informações dadas pelo entrevistado.

A entrevista semi-estruturada começa com um numero determinado de interrogativas (15 perguntas), podendo concluir com trinta, quarenta, sessenta, porque cada pergunta pode originar outras perguntas esclarecendo-as ao investigador. É importante ressaltar que as perguntas básicas podem transformar-se em derivadas e vice-versa.

As perguntas fundamentais que constituem a entrevista semi-estruturada, no enfoque qualitativo, não nasceram a priori. Elas são resultados não só da teoria que alimenta a ação do investigador, mas também de toda a informação que ele já recolheu sobre o fenômeno social que interessa.

Segundo Triviños[14], a entrevista semi-estruturada se transforma num diálogo vivo do qual participam duas pessoas, ou mais, com objetivos diferentes, mas que podem se tornar convergentes. Ambos procuram construir um conhecimento relativamente comum para determinada realidade pessoal e coletiva.

No Apêndice A mostro o roteiro de entrevista semi-estruturada no qual pode se apreciar como se estabelecem as perguntas básicas que apontam para o essencial da pesquisa.

É interessante ressaltar que, na pesquisa qualitativa, o pesquisador parte com hipóteses gerais, originadas de alguma teoria especifica. Porém, seu espírito deve estar submetido a possibilidades permanentes de flexibilização. Sua experiência de pesquisador deve estar aberta, mais que noutro tipo de pesquisa, para o contingente (que pode se transformar em necessário) que exija novos suportes teóricos para ser interpretado.

O processo de descrição e analise, interpretação, explicação e compreensão das informações, que se iniciou no momento mesmo que começamos a reunião das informações relacionadas com o foco do meu estudo, alcançou nessa etapa de meu trabalho, na redação de minha dissertação, que não é fácil, trabalhando varias horas em sala de aula para poder sobreviver.

Sei que a tendência marxista é uma das perspectivas que não opta por verdades absolutas, e sim por generalidades, com o intuito de transformar a realidade do fenômeno material social em estudo, por isso que o estudo das informações se constitui durante todo o processo da pesquisa.

Nessa minha caminhada, em primeiro lugar classifiquei todos os materiais que dispunha em três categorias de natureza Empírica[15]
Categoria 1 – Vida: (naturalidade, família, bens, lazer, política, informações)
Categoria 2 – Trabalho: (remuneração, direitos e significados)
Categoria 3 – Escola: (Ingresso, disciplina, professor, sala de aula, significado e pós-escola)

Não foi uma tarefa fácil estabelecer essas categorias, resguardando as normas lógicas de que um elemento não pode estar, ao mesmo tempo, em duas ou mais categorias. Depois disso voltei o meu olhar ao meu objeto de estudo, meus objetivos e hipóteses e comecei um novo momento de desenvolvimento de minha pesquisa, o de romper as barreiras das categorias empíricas e descobrir o fundamento que me possibilitaria analisar esses materiais. E foi a teoria quer me orientou todo esse processo de materiais reunidos, a se constituir num corpo dissertativo.

Sei que é fundamental a existência de todo o processo de descrição, analise, interpretação, explicação e compreensão das informações no desenvolvimento de uma pesquisa, para estabelecer relações imediatas e mediatas, em relação aos aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos, pensando segundo a dialética materialista, porque em geral, todas as outras teorias (positivismo, fenomenologia) descrevem seus fenômenos. Essa consiste em enumerar detalhadamente e exatamente seus aspectos.

Segundo Triviños[16], a descrição para o marxismo reside no fato de que os aspectos do fenômeno podem ser medidos e descritos, também as propriedades secundárias, é o que diferencia das outras correntes teóricas.

Num primeiro momento a descrição é sincrônica e ao separar os elementos do fenômeno realiza-se o objetivo de estabelecer o nível de importância na realidade do fenômeno de cada um de seus traços. Após essa tarefa difícil, parte para o processo diacrônico, que é buscar a origem e o desenvolvimento da parte determinante do fenômeno. (Triviños, 2001, p. 98)

O processo de explicação constitui em tornar algo claro que aparece obscuro. Mostrar a forma, e explicando o conteúdo e a causa do fenômeno material, que está ligado a outros fenômenos. No marxismo a explicação é de natureza qualitativa, está apoiada em informações quantitativas e em informações estatísticas, e é dialética e histórica. Pois existe uma relação dialética entre causa e efeito, hora mudando no seu conteúdo e em sua forma.

A explicação no marxismo é de natureza qualitativa. Geralmente está apoiada em informações quantitativas. Além disso, é dialética. Isto a apresenta como um processo diacrônico, isto é histórico. Jamais a explicação marxista completa de um fenômeno poderá ser fotográfica, fixa. A concepção de causa do marxismo é muito diferente da do positivismo. Existe uma relação dialética entre causa e efeito. A causa de um fenômeno, em determinado momento, pode ser efeito do mesmo fenômeno; e o efeito transforma-se em sua causa. Existe uma permanente relação dialética entre a causa e o efeito, como já assinalou Hegel. [...] O marxismo investiga as causas imediatas dos fenômenos; mas não se limita a isso. Ele avança na busca das causas mediatas que originam a existência do fenômeno. (Triviños, 2001, p.101)

A interpretação é um processo que busca apresentar o que se passa com o fenômeno em estudo.
Essa busca é de natureza subjetiva e qualitativa e está vinculada ao significado e não a causa de um fenômeno. Segundo o marxismo, a interpretação necessita de dois aspectos básicos: a sua historicidade, o estudo dos fenômenos em sua origem e desenvolvimento para descobrir as contradições e as características fundamentais (categorias) de seus processos, e os significados que tiveram para o tempo e as pessoas. (Triviños, 2001, p.102)

O outro aspecto é a questão da ideologia, para penetrar na essência fundamental do fenômeno material. Em suma, a interpretação, como busca de significados dos fenômenos, é um processo impregnado de todos os pressupostos que definem essa tendência teórica.

Segundo Gadamer, citado por Triviños[17], a compreensão, em geral, é como um caminho metodológico de algumas tendências teóricas que empregam a interpretação para chegar a seus resultados como a compreensão implica um confronto entre o sujeito e o objeto; rejeita o distanciamento alienante entre ambos; implica a inserção do sujeito numa concepção das partes e do todo; se realiza através da linguagem; se apóia na interpretação; enfim a compreensão aparece quando a linguagem do texto já não é nem do autor nem do leitor.

Para chegar a uma compreensão mais profunda é necessário passar por essas etapas de descrição e análise, interpretação e explicação, assim, estará compreendendo o fenômeno material dando a ele uma nova vida, com outras roupagens e tonalidades diferentes.

Diante desse contexto a teoria e os objetivos que marcaram o início do estudo, e os novos propósitos que apareceram na caminhada do estudo, são fundamentais nessa etapa de buscas e sistematizações finais. Todos os achados formam um corpo no desenvolvimento da pesquisa.

Os materiais isolados, recolhidos e interpretados, ao mesmo tempo, que integram uma totalidade, contribuem a esta, para outorgar-lhe determinados matizes que a distinguem, a vitalizam e lhe conferem a estrutura de um corpo - lógico que é resultado da pesquisa, verdadeiro ponto de chegada e que, realmente, pode servir de apoio para começar novas interpretações do fenômeno sensível do qual se partiu – as mudanças que a EJA proporcionou na vida dos alunos, frente às políticas publicas, reformas desencadeadas, enfim, ao seu desenvolvimento histórico, segundo as manifestações dos alunos, as conclusões, sugestões e recomendações apresentadas são consideradas válidas pela comunidade de educadores.
[1] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo : Atlas, 1987. p. 54
[2] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Op cit. p. 134
[3] Triviños, Augusto Nibaldo Silva & Molina, Vicente. (Org) 2ª Edição. A pesquisa Qualitativa em Educação Física. Porto Alegre: UFRGS Editora 2003. p. 104
[4] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Op cit. p. 74
[5] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. O Método Dialético na Pesquisa em Ciências Sociais. Porto Alegre. 2005. p. 108. Documento digitado
[6] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Introdução às abordagens dialética e Hermenêutica da Pesquisa nas ciências Sociais. Porto Alegre. 2004. Documento digitado.p. 66 a 70.
[7] Marx, Karl. Contribuição a Crítica da Economia Política. São Paulo, Editora Martins Fontes, 1983, p. 289
[8] Cheptulin, Alexandre. A Dialética Materialista. São Paulo: Editora Alfa-omega, 1982. p. 176
[9] Siqueira, Janes. A luta do jovem que trabalha e estuda nas escolas estaduais de Porto Alegre/RS. Um estudo de Caso. Tese de doutorado, UFRGS, 2004, p. 138
[10] Colao, Magda. Desenvolvimento da Tese de Doutorado. Porto Alegre. Documento digitado. 2005. p. 5.
[11] Triviños , Augusto Silva. Bases teório - metodológicas na pesquisa em ciências. 2ed. POA: Editora Ritter, 2001
[12] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Op cit. p. 83-84
[13] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Op cit. p.158-161
[14] Triviños, Augusto Silva. ibidem. p. 86

[15] Categoria Empírica é um ordenamento das idéias ou fatos de acordo com a experiência, criada pelo pesquisador para desenvolver os estudos sob o ponto de vista cientifico e filosófico. (Triviños, 2004)
[16] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Bases teórico-metodológicas da pesquisa qualitativa em ciências sociais : idéias gerais para a elaboração de um projeto de pesquisa. Porto Alegre: Ritter dos Reis, 2001. (Cadernos de Pesquisa Ritter dos Reis, v. 4).
[17] Triviños, Augusto Nibaldo Silva. Idem, p. 102

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